Um dia destes tenho de voltar à pesca

Depois de uma noite mal dormida apanho um moço no café que me pergunta sobre comprimidos para o enjoo porque vai para alto mar. Enquanto isto tento eu meter qualquer coisa no meu estômago vazio.

O moço insiste, umas boas seis ou sete vezes, que se não tomar nada vomita-se todo. Tento abstrair-me da conversa mas a educação obriga-me a ouvir, de tal modo que me puxa o braço para chamar a atenção. Gosto destes, dos que nos puxam e dão toques nos braços como quem diz, " tá a perceber, não tá?"

Acabei a custo o pequeno-almoço, acho que já sentia o cheiro da sardinha para iscar, o cheiro da maresia e ao mesmo tempo o cheiro a azedo do rapaz.

Começou bem o dia e agora começa a apertar comigo o sono que não tive esta noite graças à insónia do nº3.

Lembrei-me entretanto que não vou ao mar há muito tempo. Esta noite vou tentar sonhar que estou à pesca e que não ouço mais nada a não ser as gaivotas.

O disfarce

Esta histeria à volta da selecção dá-me azia.
Nesta altura o país tem problemas graves que são disfarçados com a bola.
Há aumento de iva's no próximo dia 1. desde ontem que os portugueses estão a pagar mais pelos medicamentos sujeitos a receita médica.
Ex: um antibiótico, amoxicilina + ácido clavulânico, um dos mais prescritos nas urgências, passou a ser comparticipado a 100% em certas marcas. Por outro lado, um dos medicamentos prescritos para a doença de Alzheimer, mesmo quando prescrito o genérico, deixou de ser comparticipado, para um doente do regime geral do SNS custa cerca de 60,00€ e para um doente do regime especial, ou seja, um português com rendimento inferior ao ordenado mínimo, custa cerca de 40,00€.
A justiça social deste país veste-se de uma cor escura.
Não vale a pena falar de crise se temos directos na tv da entrada para os treinos, da saída dos treinos, de quem treina, de quem não treina, da saída do hotel, do ridículo que foi a paragem numa estação de serviço só para cumprir obrigações com a Galp.
Depois de todas as entrevistas e conferências de imprensa, o seleccionador ainda falou aos jornalistas à entrada do aeroporto.
É demais, enjoa e o zé povinho só se vai aperceber disso no dia em que o balão rebentar.
Por agora até um flato de um dos jogadores serve para se interromper com um directo mas não tarda e longe vá o agoiro (sinceramente) a selecção não tem mais jogos, não vomita mais notícias e todos vão cair na realidade dos extractos bancários e dos cartões visa.
Aí sim, vai doer.

Nº2

Se há coisa que o meu menino não tem é falta de orientação. Sabe tomar um pequeno almoço reforçado como se fosse para uma longa caminhada ou como se não houvesse amanhã. Feijão, crepe, cogumelos, salsichas e bacon.
Mais tarde, uma hora mais precisamente, diz-me que tem fome.
É a idade do crescimento, não é?