decabelosempe.blogspot.com de cabelos em pé: O avô Zé de outros carnavais

de cabelos em pé

Mais ou menos um diário de opiniões. Nem sempre diário, mas de opiniões sim.

segunda-feira, março 07, 2011

O avô Zé de outros carnavais

Chegámos por volta da 1h30, era já mesmo o fim de uma sexta-feira que tinha começado bem cedo .

Vínhamos preparados para quatro dias de madorna, de dolce fare niente, de “deixa lá o carnaval para os outros e vamos mas é ficar por aqui a bezerrar. Aproveita-se o fds com o aniversário do afilhado Miguel e da tia Ana Sofia".

Já disse que era 1h30? Pois já.

Chegámos, descarregámos o carro, as três crias incluídas que já dormiam e por uns breves instantes fiquei com a sensação dos finais dos anos 70 e de todos os 80 quando subíamos a Rua Frei Fortunato e nos aproximávamos da Rua Silveira Peixoto, instalava-se uma ansiedade na barriga com a expectativa de ver os mascarados, as matrafonas, tentar descobrir quem fazia de morto no enterro do carnaval e no fds a seguir perceber quem seriam os príncipes e os reis de mais um carnaval.

Já por várias vezes referi que é uma época do ano que me passa completamente ao lado. Provavelmente porque já não estou no bairro e toda a magia ou mística foi-se no tempo.

A sala do VCL cheia à pinha, era um confronto saudável de gerações, a dos nossos pais que até sabiam uns passes de dança e a nossa que se podia dividir em duas partes: a que sabia dançar e a que ficava a puxar o lustre a cadeiras e ombreiras de portas num misto de “não sei dançar, por isso não vou ali para o meio fazer as mesmas figuras do olho de peixe-espada” e “deixa cá ver se a tipa repara que eu estou aqui com os meus sapatos yucca acabadinhos de comprar na Praça do chile e até pus o meu perfume cacharel”. Posso dizer que sempre me incluí nestas duas últimas partes, embora nunca tenha tido sucesso na última.

Claro está que não valia a pena levar sapatos yucca, porque apesar de não dançar era pisado na mesma e o cacharel desaparecia assim que subíamos os primeiros degraus e o cheiro do bacalhau assado e dos chocos com tinta se impregnavam de tal maneira na nossa roupa.

Bom, voltando à sensação de electricidade na barriga, chegámos a casa e o avô Zé, qual matrafona do carnaval do Vitória ou empresária em nome individual e isenta de impostos com domicílio fiscal num carro estacionado entre o Instituto Superior Técnico e o Instituto Nacional de Estatística, esperava pelos netos que acordaram mais depressa que num dia de visita de estudo na escola.



São 77 anos de muitos carnavais.Não sei quantos da minha geração, serão capazes de lá chegar com esta disposição mesmo que a saúde o permita.

Não sei se o Vitória voltará a ter um baile de carnaval. Sei que muitos de nós gostariam de voltar a entrar naquela sala, como se fazia há 20 anos.


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