Lei do tabaco

Quando decidi deixar de fumar, auto-convenci-me com o facto de estar com uma valente gripe que me deixou dois ou três dias em prisão domiciliária.

A lei do tabaco já estava em vigor em nossa casa desde Novembro de 1998 quando nasceu a número 1. Fumar dentro de casa nem pensar e ter que suportar a chuva ou o frio numa varanda para matar o vício começava a ser penoso. Penoso no sentido de que o prazer tornava-se de dia para dia menor que o sacrifício.

No local de trabalho, na altura em que os dois enchiamos o quadro de pessoal da farmácia, usávamos um simpático cartão pendurado na porta com um singelo "volto já" para dar uma escapadinha ao café do lado que distava uns vinte metros e onde conseguiamos avistar os clientes que chegavam. Este esquema era usado quando estava sozinho a trabalhar e principalmente porque por princípio sempre foi proibido fumar em centros de saúde, hospitais e farmácias, embora haja uma cabeça iluminada neste governo ou direcção geral de saúde que nos tenha obrigado agora a comprar e afixar no interior e exterior das instalações, dísticos da já tão falada lei 37/2007.

À parte disto queria essencialmente falar da minha separação do cigarro.

Muitas pessoas, amigos, conhecidos e clientes ficam admirados quando lhes digo que ainda hoje, passados quase sete anos e meio ainda penso no tabaco e as saudade que me deixou apesar de não ter sido um fumador de grande consumo. Raros foram os dias em atingi o maço inteiro e durante os primeiros anos não havia consumo ao fim de semana na presença dos meus pais, o que provocava uma telha daquelas ao domingo de manhã.

A esta atitude uns chamam-lhe respeito outros o contrário, eu sinceramente acho que se chama profilaxia do raspanete.

Li há dias que não sou um ex-fumador mas sim um fumador que todos os dias luta para não fumar. Concordo sem tirar nem pôr. Não se consegue cortar o cordão umbilical que nos ligou a um vício durante anos.

Sentir o fumo de um cigarro ao pé é o máximo que tenho do meu namoro com o tabaco, não por receio de o agarrar novamente mas porque já não sabe tão bem com sabia.

Quem tem medo de recuperar os anos perdidos faz lembrar quem não apagou de vez um namoro antigo, quem deixou qualquer coisa mal resolvida,não disse tudo e insiste em saber notícias do(a) ex, tendo consciência de que esse reatar de sentimentos pode ser tão prejudicial à saúde e que também pode matar.

Ainda se morre por amor, ou não?