O hospital das Caldas e os boatos
Tenho evitado escrever ou emitir a minha opinião sobre a polémica extinção do Centro Hospital Oeste Norte (CHON) e a consequente criação do Centro Hospitalar do Oeste (COE), pelas mais variadas razões.
Não podendo estar presente na assembleia municipal e na próxima sexta estar impedido por motivos profissionais de participar no abraço ao hospital, não quero deixar de expressar o que sinto quanto aos boatos ou mesmo verdades que circulam.
Talvez seja uma opinião longa e pouco simpática para alguém, pelo que peço a quem não tiver paciência nem estômago para tal, que apague a luz antes de sair e deixe a porta bem fechada, ok?
Bom, apesar de ter vindo para Caldas apenas em 1998 por motivos profissionais, há mais de vinte anos que mantenho um contacto algo próximo com o hospital desta cidade pelo lado familiar.
Tenho assistido a varias alterações no modo de funcionamento e nos últimos anos de uma forma muito significativa. Tenho, aliás a ideia que temos vindo a assistir à crónica de uma morte anunciada.
Como é que é possível que a administração daquela entidade tenha sido responsável pela gestão do Parque da cidade e pela Mata? Devem ser poucos os casos iguais no país. Concordo que essa gestão seja feita por alguém que não os responsáveis do hospital, não tem lógica que se viva preocupado com o "ordenamento" circundante do hospital, não tem lógica que se gaste tanto dinheiro em manutenção de espaços verdes e estatuetas que confesso, a mim como cidadão não me dizem nada e não são preponderantes para os cuidados de saúde.
Não serão motivos para aumentar o passivo de um conta corrente já de si doente?
Como é que os sucessivos responsáveis do ministério da saúde, assistiram ao êxodo dos profissionais para reformas antecipadas ou não, para depois regressarem aos serviços, contratados por empresas prestadoras de cuidados de saúde, pagos a peso de ouro e "desprendidos" de qualquer responsabilidade ou dedicação aos próprios doentes/utentes.
Custa-me a crer que se pague cerca de dois mil euros a uma empresa para colocar um enfermeiro no nosso hospital e o mesmo receba metade. Será isto verdade?
Quando vim viver para Caldas ouvi elogios de pessoas em Lisboa que recorriam aos serviços de urgência do nosso hospital pela qualidade aliada ao pouco tempo de espera, principalmente na pediatria. Os próprios profissionais de saúde escolhiam a nossa cidade para viver e trabalhar porque "o hospital das Caldas não despedia ninguém". O que é que vai ser agora dessa gente que mudou de cidade, região e assumiu compromisso, contraiu empréstimos para comprar casa, etc?
Vão ser os funcionários do hospital delicadamente convidados a desdobrarem-se entre Caldas e Torres? Do género, "ou vais ou há mais quem queira".
Temos que concordar que há serviços que funcionam mal, a oftalmologia e a reumatologia por exemplo, estão reféns de uma gestão difícil de entender para o senso comum. Não têm profissionais suficientes, por isso não funcionam mas também parece que não se abrem concursos de admissão porque não há dinheiro e cria-se um efeito de "pescadinha de rabo na boca".
Esta guerra que agora se criou não é nem pode ser uma questão política. Se o governo PS não nos cortou as pernas prometendo uma ampliação do hospital, na minha opinião muito mais racional do que a construção de um novo, não pode um governo da mesma cor política da câmara municipal, (aqui lembro-me do apoio do Dr Fernando Costa ao Dr Pedro Passos Coelho no congresso do PSD), cortar de maneira cega, uma das principais fontes empregadoras da cidade. Não pode para o pensar do comum mortal.
Por enquanto fazem-se promessas vãs porque na política nada é certo até estar o preto no branco mas já se fala e esperemos que não passe também de um boato, que já fogem profissionais de Torres Vedras para o novíssimo e super-bem hospital de Loures. A acontecer Caldas da Rainha desaparece do mapa de cuidados de saúde, ficando entregue a uma estúpida e enorme distancia de Loures e Leiria.
Está tudo no começo mas o maior medo é que seja apenas o começo do fim do nosso hospital.
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